TIREÓIDE E BÓCIO
A glândula tireóide tem a forma de um
escudo. Comparável a uma borboleta, seu corpo esguio agarra-se à parte inferior
da cartilagem tireoidiana que está sobre a laringe enquanto as asas da
borboleta, os dois lobos da glândula tireóide, estão dispostas de ambos os
lados da traquéia. Sua função é a produção do hormônio do metabolismo que
aparece sob duas formas. A L-tiroxina e a ainda mais eficaz tri-iodotironina
consistem substancialmente de iodo e têm a função de mobilizar o metabolismo.
Elas aumentam a vitalidade por mais tempo e de maneira mais duradoura que os
hormônios de ação rápida produzidos pelas glândulas supra-renais, a adrenalina
e a noradrenalina. Além do sistema circulatório, com a pressão sanguínea e a
freqüência cardíaca, são estimuladas também as funções respiratórias e
digestivas, a temperatura se eleva, aumentando também o metabolismo basal, a
atividade nervosa e a excitabilidade muscular; enquanto o tempo de reação
diminui, aumentam o estado de alerta e a velocidade de raciocínio.
Além disso, a glândula tireóide
desempenha um papel decisivo nos processos de crescimento. Franz Alexander
indica que, no processo de evolução, ela permitiu a passagem da água para a
terra. É somente a
partir dos anfíbios que os seres vivos têm glândulas tireóides. Aplicações
experimentais de tiroxina no axolote Molchart mexicano propiciam a substituição
da respiração branquial pela pulmonar, de maneira que os animais transformam-se
de seres aquáticos em habitantes da terra firme. W.
L. Brown chamou a tireóide de
"glândula da criação". A tireóide conserva a relação com o mar até
hoje por meio do iodo, que ocorre principalmente no mar e exclusivamente a
partir do qual ela pode produzir seus hormônios. quando os seres humanos
afastam-se muito do mar e, por exemplo, escalam montanhas distantes, passam a
ter facilmente problemas de tireóide.
O significado dos hormônios da
glândula tireóide para o amadurecimento humano é mostrado por sua carência, que
provoca cretinismo e mixedema, onde o desenvolvimento corporal e espiritual
ficam atrasados. As juntas de crescimento dos longos ossos das extremidades,
por exemplo, somente se fecham tardiamente, o desenvolvimento da inteligência é
prejudicado. Durante a fase de desenvolvimento, a tiroxina exerce efeitos
análogos aos do hormônio de crescimento da hipófise.
Quando o local de produção de
substâncias metabólicas que contêm iodo aumenta de tamanho, está-se sofrendo
necessariamente de uma elevada "falta de combustível". Com a expansão
do local de fabricação localizado no pescoço, o organismo sinaliza aos afetados
que eles não estão reconhecendo suas necessidades motrizes aumentadas. A fome
de energia, atividade e mudança mergulhou na sombra. Esta fome de mais
metabolismo relaciona-se em primeiro lugar com a energia da mudança, e só em
seguida com a substância necessária. O bócio mais freqüente deve-se à carência
de iodo na alimentação. Os afetados, em sua maioria aferrados a tradições
rígidas, vivem em um ambiente que lhes oferece muito pouca energia e variedade.
O bócio trai a fome relacionada a isso. Ele se desenvolve tanto com base em uma
carência hormonal como no subfuncionamento. Através da formação do bócio, a
tireóide consegue finalmente cobrir as necessidades metabólicas utilizando cada
átomo de iodo.
Com o subfuncionamento, o bócio mostra
igualmente o aumento da necessidade de combustível. A situação nesse ponto
prossegue sua escalada quando, apesar do aumento do local de produção, essa
necessidade não é coberta. Os pacientes tornam-se indolentes e gordos, não
acontece mais nada (energeticamente) em suas vidas. Até mesmo a fome
desaparece, já que falta a energia para fazer algo com o alimento.
Na hiperfunção da tireóide, os
afetados sentem a fome de troca de substâncias (ou metabolismo) com um apetite
verdadeiramente desenfreado. Eles podem comer ininterruptamente sem engordar
porque seus corpos queimam as substâncias imediatamente. Seu pouco peso trai o
fato de que eles não dão conta das exigências energéticas do corpo apesar de a
tireóide ter formado um bócio. Eles comem e comem, e nunca é suficiente.
Correspondendo aos tipos de bócio, os
problemas podem ser divididos em três grandes grupos, a hiperfunção, a
hipofunção e a formação de bócio sem disfunção metabólica. Este bócio com
valores normais de função glandular estava amplamente difundido em regiões onde
se consumia sal pobre em iodo. Como variante inofensiva, ele não apresenta
nenhum sintoma no que se refere ao metabolismo, somente seu tamanho exagerado
do ponto de vista estético ou mecânico. A falta de iodo na alimentação faz com
que a tireóide cresça o suficiente para poder utilizar cada mínima quantidade da
preciosa substância que apareça. O efeito para fora mais importante que o bócio
resultante exerce são problemas cosméticos, enquanto para dentro os pontos
principais são, entre outros, soluços, falta de ar e problemas vocais.
O pescoço grosso dá a impressão de
grosseria e relação com a terra, o contrário da elegância, ligada que está ao
esguio pescoço do cisne. Quando o pescoço de alguém incha, ele
acentua com isso o âmbito do incorporar e do possuir. Em alemão se fala
popularmente de um "pescoço inchado" (Blähhals), referindo-se
assim a uma pessoa presumida. Mas quem incorpora muito tem muito e, com isso, é
importante ou, no mínimo, alguém de peso. Expressões em alemão tais como Gierhals
[Gier = avidez / Hals = pescoço] enfatizam a incorporação,
enquanto Geizhals e Geizkragen [Geiz = avareza / Kragen
= colarinho] referem-se mais ao possuir. Trata-se evidentemente de pessoas
que nunca colocam o suficiente goela abaixo e tendem a acumular. Quanto
menos isso lhes é consciente, com mais clareza o ambiente o vê. Em todo caso,
pode ser que a avidez de possuir esteja tão reprimida que ela também deixa de
chamar a atenção dos que estão de fora. Não é somente a dimensão material que
faz parte do tema "incorporar", tal como talvez seja aludido também
pelo queixo duplo. Os pacientes de bócio também têm a tendência de embolsar algum
em sentido figurado. Finalmente, o pescoço grosso sinaliza ainda a pouca
mobilidade nesse âmbito, chegando até a deixar o pescoço duro, o que por sua
vez atua negativamente na visão geral e no horizonte espiritual.
Em algumas regiões o bócio era algo
tão normal que fazia parte da imagem da população rural. Evidentemente, um
lenço enfeitado com jóias ao redor do pescoço fazia parte da vestimenta das
camponesas. Assim como com os pelicanos, um bócio bem cheio simbolizava a bolsa
recheada e altos rendimentos. Os afetados eram em sua maioria camponeses que
viviam da própria terra e a quem condizia a impressão robusta e rude acentuada
pelo bócio. Eram pessoas que carregavam seus bócios sobre os ombros com
estabilidade, conservavam estritamente tradições que em parte remetiam à Idade
Média e que não davam muito valor à ampliação de seu horizonte espiritual ou
até mesmo a mudanças em seu modo de vida. A enormidade de sua imobilidade
conservadora e de seus esforços para a obtenção de posses era em geral
inconsciente e ocultava-se por trás da religiosidade. Mas quão significativo
era o possuir e o papel destacado que os valores tradicionais desempenhavam são
mostrados pelas peças de teatro correspondentes, que quase sem exceção tratavam
desse assunto. Não se trata somente das filhas, mas sempre do dote também, que
muitas vezes revelava o caráter de veneno juntamente com o de presente. Além
disso, a maior parte gira em tomo do princípio "Isso sempre foi assim".
Somava-se a isso o isolamento das regiões afetadas, que favorecia a falta de
atividade e mudança.
Com
a introdução do sal de cozinha iodado e a adição de iodo na água potável, esse
tipo de bócio regrediu notavelmente, embora naturalmente o tema não fosse
eliminado com isso. Ele então precisou buscar outros meios (de expressão). De
qualquer forma, o isolamento original e a imutável monotonia das regiões
camponesas foi sendo perdida nas gerações seguintes com a abertura para a
cultura da cidade que ocorreu ao longo do tempo, e com isso foi desaparecendo
também a predominância da postura anímica básica.
O bócio externo, com muita freqüência,
simboliza exigências de posse e poder não admitidas. Os afetados
"exibem" aquilo que têm, como bem sabe a sabedoria popular. O bócio
voltado para dentro está mais escondido e é, por essa razão, mais problemático.
A temática de fundo, naturalmente, é semelhante, só que aqui tudo é engolido e
ocultado do ambiente. Isso dá uma impressão melhor para fora, e por essa razão a
impressão para dentro é tanto mais perigosa.
Aqui, o tema da cobiça está metido mais profundamente no inconsciente e provoca problemas correspondentemente mais
profundos. Esse tipo não admitido para si mesmo de açambarcar e arrebatar pode
impedir a respiração e, com isso, o intercâmbio e a comunicação. Muitas vezes,
o bócio que cresce para dentro pode dificultar também a deglutição, mostrando
como continuar a engolir pode ser doloroso e opressivo. Caso a opressão atinja
também a laringe, a voz pode ser afetada e adquirir um timbre rouco, de
grasnido. Por um lado os afetados soam como abutres, por outro, como se
estivessem sufocando, e assim é em certo sentido. Eles ameaçam sufocar de
cobiça.
Neste contexto, uma imagem de conto de
fadas nos é dada pela Gata Borralheira e os pombos que vêm em seu socorro. Eles
transformam em seu contrário aquilo que foi dito até então. Segundo o lema
"O bom na panelinha, o ruim no papinho", diferencia-se cuidadosamente
o que deve ser atribuído ao mundo e o que deve ser guardado para si mesmo.
Naturalmente, não pode ser muito saudável colocar tudo o que é bom e
assimilável para fora e guardar para si mesmo e engolir tudo o que é ruim e não
pode ser assimilado.
Na introdução ao pescoço, este foi
reconhecido como sendo o lar da angústia. Naturalmente, esse tema é declarado
por um bócio que ameaça fechar a garganta de uma pessoa. Sendo um dos dois
pontos de bloqueio mais importantes do corpo, o pescoço é um lugar que se tende
a trancar com um ferrolho. Permitir o crescimento de um bócio torna-se então,
também, uma possibilidade de isolar a cabeça do corpo.
Perguntas
1. Vivo
em um ambiente que proporciona poucos estímulos à minha vivacidade?
2. Exagero
o tema "posse"? Deixo minhas posses expostas? Já tenho minhas posses
penduradas no pescoço?
3. Faço
a mim mesmo coisas que me incham e que me impedem de participar da vivacidade
mutante da vida?
4. Como
ando com o tema-peso (importância)? Sinto-me importante ou preciso fazer-me de
importante?
5. Escondo
muita coisa? Coisas valiosas? Valores? Coisas desagradáveis?
6. Açambarco sem deixar que os outros percebam
(bócio interno)? Faço-o para não ter de renunciar a nada ou por vergonha?
7. Aquilo que açambarco molda a minha vida?
8. Eu me tranco no pescoço e separo minha
cabeça do corpo, meus pensamentos de meus sentimentos?
(Trecho retirado do livro "A Doença como Linguagem da Alma" de Rüdger Dahlke.)
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